Assunto inacabado está quando nos referimos à noção de justiça. Longe de querer ser um filósofo jurídico(o que não sou), apenas me inquieto com tamanha convicção por parte de alguns em saber o que é justo e o que não é justo. Ou ainda pior, saber o que é injusto, não apenas pelo simples fato de ser oposto ao que é justo, mas também por se aproximar mais do que é mesmo imoral. Por muito tempo questionou-se sobre a origem das coisas, e se a justiça humana e as disposições legais são apenas convenções sociais com objetivo de manter a ordem pública. Decaiu-se a percepção da existência de uma “Justiça” com J maiúsculo, anterior e superior a qualquer outra noção de justiça. Segundo os metafísicos, principalmente Platão, os homens não sabem o que é a justiça por não conhecerem sua essência. Ao contrário, permanecem no nível das aparências, que são o modo como as coisas aparecem aos homens e o modo como estes a percebem por meio das sensações e dos sentidos. Ademais, as aparências constituem o mundo sensível, cada um se apega a um aspecto das aparências e o transforma em sua certeza, em sua “verdade”. Como cada um percebe o mundo de maneira diferente, as opiniões que disso resultam também são variadas e divergentes, isso sem contar que as opiniões ainda podem esconder interesses pessoais.
Parece-me pois, ainda estar bastante atualizada a análise de Platão, pois vivemos numa sociedade em que as leis não correspondem ao senso maior de Justiça, mas apenas às pequenas justiças, em grande parte coerentes em beneficiar aqueles que têm mais força social. Se pergunta pois, se haveria uma Justiça superior, e a resposta é positiva, com a concessão de haver um pensamento para além da opinião e dos interesses pessoais. O que aí torna-a impossibilitada. Essa é a questão e esse é o caos que ainda vivemos em todas as esferas onde se presume uma base justa, um senso justo. Aplica-se assim também na política, ramo movido por interesses isolados e particulares, que privam-se do genuíno papel de buscar e promover o bem comum. Soa como enfadonho e fantasioso acreditar que o senso de justiça é algo anterior à formação social. Resta-nos pois, ter fé. Acreditar que a solução parte de nossas inquietações e entender que a inércia não move nada, por isso urge a nós fazer algo.

 É nesse caos da virtude que ilustro o tema e finalizo o pensamento, ainda em Platão,  com a alegoria da caverna que abre o Livro VII de A República. Segundo a alegoria, o mundo sensível é como uma caverna em que os homens se encontram acorrentados de tal modo que só podem olhar para as paredes escuras. Atrás deles há uma fogueira cuja luz projeta na parede sombras obscuras- a única realidade, para esses homens. Mas um deles consegue escapar. Fora da caverna, a intensa luz do Sol ofusca-lhe a visão. Os olhos, porém, acostumam-se à claridade e ele vê a verdadeira e bela realidade: o mundo inteligível. Maravilhado, não pode deixar de voltar à caverna, a fim de comunicar aos companheiros a sua descoberta. Mas eles não o compreendem. Riem e, depois, matam-no. Assim é quando se luta pela verdadeira justiça em nosso país, ao apresentá-la se é caçado, se é renegado, se é morto. Entretanto, é possível ter um desfecho diferente. Ao entrar na caverna novamente, devemos estar verdadeiramente preparados para eventuais ataques contra a boa fé.

             Já há algum tempo tenho vontade de escrever e compartilhar com vocês algumas reflexões sobre uma doutrina que acho ser coerente nos dias de incerteza que vivemos hoje: a doutrina do equilíbrio.  Prefiro fugir dos tons da dúvida kafkiana, mesmo que concordando em grande parte com a ideia do caos que vivemos. É justamente por acreditar no caos, que luto pela ordem. E a ordem me veio através da ideia do equilíbrio.
           Equilíbrio é algo difícil de ser conceituado, visto que cada ser humano pode admitir uma noção distinta do que vem a ser o termo. Passo então a convencionar a qual noção de equilíbrio me refiro. Do Dicionário Aurélio, gosto particularmente do primeiro conceito que diz que equilíbrio é " o estado de repouso de um corpo solicitado por várias forças que se anulam". Para a sociologia o conceito é semelhante: "Equivalência de forças antagônicas num sistema fechado de inter-relação dinâmica". Sabendo que, num campo de forças dinâmicas que se entrecruzam, disperssam-se e atravessam-se, tornando difícil perceber as nuances marcadas de cada pensamento, o cenário social não nos permite acreditar num total equilíbrio.
            Fato é que nunca seremos completos em tudo, a incompletude é da natureza humana. Precisamos então discernir algumas coisas e procurar compreender no passado as premissas para o futuro. Foi possível ver então, em minhas análises, que muitas das mazelas do mundo se dão pela falta de equilíbrio, ainda que este seja incompleto ou utópico. Posso, por exemplo, trazer como alusão ao tema, a questão da direita e da esquerda (tema que me debruçarei com mais afinco na continuação desta série de reflexões), que insistem em "partidarizar" o "impartidarizável'. Muito se foi perdido em termos de avanço do nosso país, pois os partidos de oposição, quando entravam no poder, queriam mudar tudo, inclusive o que vinha dando certo por mero orgulho partidário. Exato, falta-nos equilíbrio. Falta-nos equilíbrio em querer aproveitar certo modelo que tem dado certo, e incrementar com outras soluções reformadoras, que se contrapusessem às antigas que não vinham tendo êxito.
           Esse equilíbrio foge ao senso comum do "meio termo" ou do "em cima do muro". Pelo contrário, o equilíbrio é a otimização das soluções que realmente poderão dar certo. Isso consiste em analisar minunciosamente cada atitude e cada pensamento. Cabe a esquerda entender o que há de bom na direita? Sim! Cabe a direita concordar com algumas ações da esquerda? Também sim, desde que em ambos os casos haja uma verdadeira coerência nas atitudes. Reitero, chega de partidarismo! Precisamos pensar! Precisamos parar e analisar! Nada mais educativo do que entender as consequências das diversas ações dos governos. Nada mais virtuoso do que, antes de proferir palavras viciadas pelas ideologias dominantes, buscar expandir o nível dos pensamentos com leituras analíticas sobre a história da política mundial. Resta a nós decidir se queremos ser mais um alienado que segue a manada política, ou se queremos admitir a individualidade e a racionalidade, expandindo a consciência política através do verdadeiro conhecimento. 
          Por fim, longe de ter as respostas para tudo, apenas me proponho a analisar os excessos, a entender os percalços políticos que geram as máximas partidárias. Quero abrir os olhos de quem me lê para que enxerguem que o equilíbrio está em entender mais a si mesmo e ao mundo, entendendo também, por conseguinte, todas as relações que se insiram na teia social. Quero lutar contra o engano intelectual. Desejo que os próximos textos da série gerem boas discussões sobre política e desejo que as minhas ideias não sejam o manual do politicamente correto, ou do padrão de política coerente, mas sim, desejo ser mais um opinador, que não corrobora com a brincadeira partidária, com o falso carisma, com as promessas infundadas, com o orgulho desvairado. Se possível for, gostaría de ser mais uma mente que tenta acordar os seus pares para o caminho da discussão consciente. E por enquanto é só.