Nada muito a dizer além do que eu já tenho dito. Mas, tentarei, em breves considerações, esperando que essas breves sejam as mais duradouras na mente de cada um, simplificar o pensamento que tanto me dilacera. Dói a dura percepção de que o brasileiro tem desistido do senso público, na verdade, do bom-senso público.  Estamos cada vez mais desinteressados por aquilo que, comprovadamente, atinge a nossa vida de forma direta.  Não faz mal, nada machuca, o que vale é o futebol do domingo. Então, eu abro essa concessão, respeito a vontade do brasileiro. Vamos falar de futebol.  O meu time, Flamengo, por exemplo, classificou-se para a semifinal da Copa do Brasil. O meu pai, botafoguense “roxo”, disse que isso aconteceu porque o time do Flamengo enfrentou um time fraco (o mesmo que desclassificou o grande time do Fluminense no maracanã).

Ainda no jogo do Flamengo: o zagueiro Marcelo, que já tinha amarelo, faz falta por trás e toma o segundo amarelo e, por consequência, o vermelho. A falta, visualmente, de fato, não foi lá essas coisas todas, mas o juiz é quem julga e aplicou a norma: pontapé por trás, é amarelo. A torcida aplaudiu o jogador, que desfalca o time do Flamengo para o próximo jogo. O técnico Vanderlei Luxemburgo, ao contrário, não ficou nada satisfeito e nem feliz com o ocorrido. Algo mais sensato, vindo do gestor, tendo em vista que o Flamengo não tem bons zagueiros no banco de reservas.  

Tudo isso parece se tratar apenas de notícias de futebol, mas há princípios aí inseridos que muito me preocupam. O primeiro deles, é que o brasileiro prefere desviar o assunto, arrumar uma desculpa para diminuir o feito adversário, do que reconhecer o que aconteceu de fato. O segundo, é que preferimos deixar a paixão do momento falar mais alto do que a razão que fundamenta o que é bom e justo. Bom é criticar e atacar, bom é aplaudir aquele que perverte a norma. Isso está no nosso sangue. Somos cordiais, tal como já falava Sérgio Buarque de Holanda na sua magnânima obra Raízes do Brasil. Cordial, no sentido de que agimos pelo coração. Lembro da exposição do professor Leandro Karnal quando disse que somos cordiais para o bem, e ainda mais cordiais para o mal. Odiamos juntos, somos bons em atacar, somos bons em desfazer, somos bons em aplaudir quem está errado, gostamos de quem bate.


O mensalão? Não houve, foi golpe da mídia. Financiamento de campanha por corrupção e “caixa 2”? Mentira, é o pessoal que inventa isso. O escândalo da Petrobrás? Mais uma vez coisa da mídia para retirar o PT do poder. Mentir números sobre dados econômicos e sociais, e sobre feitos dos adversários? Quem não faz isso? A política tem dessas coisas. E, enquanto isso, vamos aceitando, com aplausos, a irresponsabilidade dos governantes (de qualquer partido que seja), a roubalheira dos cofres públicos, o financiamento de campanhas com dinheiro governamental, a terceirização de culpas (é mais fácil colocar a culpa nos outros, afinal), a tergiversação (termo recorrente nessas eleições) sobre o que é realmente útil aos brasileiros. 

O que sobra? Ataques, baixo calão, de todas as partes, como se os telhados não fossem todos de vidro, como se a sujeira não fosse algo comum entre eles. O que vai ser nos próximos quatro anos? Não sei. Campeonato brasileiro tem todos os anos, talvez o Cruzeiro seja de novo campeão, talvez o meu Flamengo consiga essa proeza (coisa difícil), talvez o governo seja bom ou ruim. Se ruim, ao contrário do campeonato brasileiro, só teremos uma nova versão daqui a quatro anos (e olhe lá, às vezes o brasileiro não quer saber de outra versão).  Mas, quanto ao futuro do governo, o que podemos dizer é que nada sabemos, pois não há propostas.  O céu está turvo adiante, e estamos sendo guiados por cegos. Façamos o que fazemos de melhor. Regozijemo-nos com a dramaturgia do horário eleitoral (combo de drama, comédia, terror), e somos bons com novelas. Agrupemo-nos também, somos unidos, com a cordialidade do ódio em conjunto, ou do amor irracional. Tomemos uma cerveja e brindemos a democracia! No fim, o que me consola, é que ainda podemos escolher o time que quisermos para torcer, pois é disso que se trata, de torcida, sem que sejamos taxados de “desmemoriados, elitistas, tapados, burros, inconsequentes”, e coisas dessa ordem. Sabemos torcer, isso sabemos, e gostamos de ataques. Por isso, torçamos nós, rubro-negros, para que o nosso centroavante, Alecsandro, recupere-se logo do afundamento de crânio, ou estaremos sem muito ataque até a próxima temporada.  E isso nos traz angústia.  

Rodrigo Seixas

       Há algo de muito angustiante no nomadismo intelectual. Se já não existem amarras em nossos pensamentos (será?), o que os impediria de alçar voos? Faz certamente algum tempo que me questiono sobre a falta de poder reflexivo e crítico do ser humano. As respostas têm sido cada vez mais perguntas, ao passo que queriam as perguntas ser respostas. Exato, há um mundo pelo avesso. O mundo das ideias é cada vez mais engessado, preso, amarrado. Talvez pela opressão do homem em crer não saber nada. “Só sei que nada sei”. Talvez um exagero se não lermos até o final, talvez uma verdade absoluta e confortante para os preguiçosos. Sabemos de coisas. O problema é que sabemos cada vez menos. Interpretaram mal o velho Sócrates, pois ao afirmar que devemos conhecer a nós mesmos, ele indica que o próprio homem é complexo demais para determinismos. É por não saber de nada, que entendo que mais preciso saber, e isso é o que dá vantagem em relação aos que acham que sabem de alguma coisa. É dessa forma que Sócrates completa o seu pensamento, negligenciado por muitos, os que fecham as ideias em um mundo tão pequeno que não cabe na própria mente humana. Ide e desbravai! Há muitas terras ainda não descobertas, e muitos terrenos ainda não explorados. Há coerência nisso tudo, pois as ideias podem ser tão materiais quanto as terras, talvez até mais. De certo, o mundo que nos espera, espera tão ansiosamente que volta e meia se apresenta em flashs, talvez como alguma sorte de teaser do que ele guarda para os que caminharem em busca desse mundo. Há uma eterna complexidade a ser entendida, que só deixará a eternidade ao passo que conhecida. Os temores são sempre eternos quando desconhecidos. O ponto final do oceano onde todos os barcos cairiam, é, na verdade, o ponto inicial de nossa ignorância. Ide e desbravai! Há muito no mundo, há muito em nós, e há menos do que imaginamos. Não haveria nome melhor para titular o seu grupo de sábios, seus discípulos, de peripatéticos: Aristóteles parecia entender que para ser humano e para entender o mundo precisa ser ambulante.      


Algumas considerações sobre o ser retórico
A retórica não pretende ser muita coisa, tampouco nada. Pretende ser algo. Não lhe preocupa o estatuto da essência, pois não cabe a ela ser ou deixar de ser. Cabe a ela, sobretudo, adjetivar. Por certo, em toda a sua constituição enquanto técnica, a retórica visou qualificar os discursos, os gêneros, os oradores, os auditórios, os argumentos, etc. Seja para determinar o que possa ser útil ou inútil, belo ou feio, justo ou injusto, sempre se apresenta como o que pode definir qualitativamente alguma coisa. O grifo aqui se fez bastante necessário, para remarcar que não cabe a ela denotar o que seja, mas apresentar as possibilidades.   Sim, a retórica é adjetivo, tal como o próprio termo rhetoriké (retórica), adjetivo grego que acompanha o substantivo tekhné (técnica). A tekhné rhetoriké é a própria arte (no sentido de técnica) retórica. Segundo Hansen (2013)[1], no termo retórica encontra-se a raiz indo-europeia -r-,que tem a noção geral de “movimento”, como por exemplo na palavra grega rheo-‘escorro’ e também na palavra latina currere-‘correr’. Tem-se também a raiz grega ik de rhetoriké e por correspondência também no latim ic, como em “dialética”, “gramática”, todas indicando a mesma ideia de técnica. Nesse sentido, não se pode exigir que a retórica seja algo exclusivamente da ordem da essência, mas sim do juízo. Ela é, por assim dizer, a arte dos juízos. Quando dizemos A: “essa moça é bonita” e B: “essa moça não é tão bonita” não estamos questionando o fato do sujeito referido no enunciado ser moça ou não, substantivos declarados nos dois enunciados, mas sim o fato de essa moça ser bonita ou não tão bonita. As duas possibilidades “ser bonita” e “não ser tão bonita” denotam que a verdade dos enunciados está mais na concepção de beleza dos enunciadores, do que na própria beleza da moça enunciada.  O adjetivo descreve, assim, a própria função da retórica, pois ela apenas qualifica o predicado e os sujeitos, mas nunca determina suas essências, pois é claro, a essência é algo que transcende qualquer juízo preliminar. As teses A e B podem ser ambas “verdadeiras”, porque a verdade, neste caso, é da ordem do “parecer” e não do “ser”, o que constitui o conceito de verossimilhança para a retórica, noção capital para toda a constituição da técnica.

O homem retórico
O homem é um ser retórico e nunca deixou de sê-lo. Independentemente das fases, das filosofias, das ideologias, do tempo, o ser humano sempre se expressa através da linguagem (qualquer que seja ela), a fim de comunicar o que ser quer ao outro, com fins persuasivos, ou não.  Pode-se perceber a retórica (o que ela significa, e não o termo) desde as primeiras trocas linguageiras mais remotas, nas negociações primeiras no decorrer da história, na constituição dos povos, das sociedades. A retórica esteve no estabelecimento dos princípios religiosos, nos dogmas, nos inventos, no conhecimento empírico, esteve na época das “luzes”, também na das trevas, e esteve mesmo nas leis matemáticas. Em tudo isso ela esteve, e ainda está em tudo o que persiste. Porque a retórica existirá enquanto existir o homem, o conhecimento e o outro. A tekhné rhetoriké só deixaria de existir se em um episódio de exterminação de todo o planeta Terra não restasse homem algum, ou restasse apenas um, pois o que é essencial para a existência dessa técnica é a possibilidade de interação entre dois sujeitos falantes (ainda que se possa deliberar com o próprio “eu”[2]). Se admitirmos validade nos dogmas e nas crenças judaicas, podemos já conceber a origem do que viria a ser técnica retórica (não a do termo) ao mergulhar na história hebraica acerca do surgimento do homem e da mulher com Adão e Eva. Podemos entender que a retórica já ali começava, desde o próprio relacionamento entre Deus e Adão, até a criação da mulher Eva, que passou a ser a sua parceira comunicacional. A suficiência do conhecimento do bem sempre esteve devidamente delineada por Deus, que prometeu o bem eterno aos dois, apenas exigindo que ambos não comessem do fruto da árvore que se situava no meio do jardim do Éden. O que aconteceu em sequência? Apareceu uma serpente que os “enganou”, persuadindo Eva a comer do fruto e partilhá-lo com Adão. Ela o persuade, os dois comem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, desobedecem ao próprio Criador, passam a conhecer tanto o bem quanto o mal, além de passarem a ter vergonha da nudez mútua. Deus os condena a uma série de maldições pelo ato infracional. O que nos interessa aqui, sobretudo? A serpente foi retórica, Eva foi retórica, Adão, igualmente, refletiu retoricamente. A retórica é a capacidade de refletir sobre uma série de possibilidades.  É a própria discussão. O que move o pensamento retórico é a “problematologia[3]” dos questionamentos. Somos movidos a perguntar o mundo, porque não temos resposta de tudo, e quando a temos ou achamos que a temos, essa ainda pode ser igualmente questionável. O mundo já viu, por certo, o desmoronar de velhas verdades, e por isso, precisamos nos questionar sempre a razão de todas elas. Além disso, claro, todas as conclusões que passemos a ter em um processo argumentativo vai nos levar a uma ação, ou a uma disposição de ação, que gerará consequências, positivas ou negativas. A retórica é o fundamento da escolha. Não se come um fruto meramente por comer. Come-se sempre porque uma propaganda se foi feita sobre tal fruto, e eu tenho conhecimento sobre o que é aquele fruto, o prazer que ele pode me ocasionar, os benefícios que pode me trazer, além dos malefícios que nele se incluem, mas que posso supostamente suportar em função dos benefícios. No caso, comer o fruto custou ao homem “a queda[4]”, porém certamente iniciou a capacidade retórica humana, através do conhecimento do bem e do mal, de o homem se instituir enquanto ser racional e deliberativo.   
Destarte, reafirma-se, a retórica é um adjetivo, uma técnica, onde se pressupõe a possibilidade de “movimento” das ideias, dos argumentos e dos juízos, impossibilitando uma concepção sólida de certo/errado, bem/mal e demais dicotomias. Ademais, viu-se que a retórica é escolha, é o fruto do conhecimento, é a pluralidade de possibilidades e opiniões. É o ser isso podendo ser aquilo. É, pois, a medida dos “olhos” e dos valores de cada um. No entanto, devemos ter cuidado para não aproximar a retórica, indevidamente, ao relativismo, pensamento este que a mesma não se propõe a defender. A retórica não é nem relativista, nem etnocêntrica, não é universalista, nem fundamentalista, a retórica pode ser qualquer coisa, desde que se constitua em teses devidamente aceitas pelas partes acordadas. A tekhné rhetoriké é a arte mais justa das artes, porque ela apregoa o que é verdadeiro para as partes que se acordam entre si. É verdadeiro aquilo que se concorda que é. Não basta ser verdade ao orador, precisa ser também, e, sobretudo, ao auditório. A plausibilidade das teses é o que torna a retórica tão especial, pois, regressando ao caso dos enunciados citados inicialmente, a possibilidade de a moça “ser bonita” ou de “ser não tão bonita”, dá a chance de ela ser ao menos bonita para alguns. Por certo que um terceiro enunciado derivaria dessa situação, a saber: C- A moça não é bonita- e que, apesar de ser algo supostamente doloroso de ouvir (em se tratando da moça), é algo perfeitamente aceitável por parte de quem julga. Isso evoca um importante conceito da retórica, o de kairós, segundo Górgias, o tempo e o momento oportuno para algo, a conveniência, tal como o decorum ciceroniano, pois julgamos de acordo com certas restrições situacionais, que regem a harmonia das relações e a sua verossimilhança. Dessa forma, podemos dizer que o ser retórico é sincrônico e diacrônico ao mesmo tempo, pois tanto julga e delibera no “hoje” situado, mas também vê o seu pensamento ser influenciado por toda uma constituição histórico-social do pensamento humano. A retórica é, portanto, alinear e linear, simultaneamente. Ademais, toda essa argumentação feita pode causar no auditório-leitor o efeito persuasivo pretendido por mim orador-escritor, mas pode também não causar nenhum efeito, ou mesmo o efeito reverso, pura e simplesmente pelo fato de o auditório-leitor não se identificar com o meu exemplo baseado na história da gênese bíblica (o livro bíblico de gênesis), ou por não concordar com a disposição ou com a validade dos meus argumentos. Em razão disso, constatamos: o acordo é algo da ordem da identificação. Ele vai ser efetivado se houver identificação entre o orador e o auditório, e se a premissa inicial do orador argumentante for aceita por ele.
A vida é feita de premissas, não silogísticas, mas entimemáticas. Precisamos sempre julgar e “rejulgar” os nossos pensamentos, os nossos acordos, as nossas sólidas convicções. Nem sempre essas premissas que sustentam nossa filosofia de vida são verdadeiramente razoáveis. Muitas vezes são falaciosas, ou espécies de paralogismos. Eis o desafio: entender a natureza da arte, ou das artes retóricas, sem leva-la como ré por afrontamento à verdade. A retórica é, ou pode ser, em si, a própria verdade. Uma verdade criativa, que não se abstém a cadeias lógicas do pensamento. Aliás, o próprio Deus, que no princípio era o Verbo (logos), foi movido pela retórica, pois criaria, a partir dali, o verdadeiro discurso da vida, este mesmo questionado por tantos outros no decorrer das civilizações.  Sim, exalamos essa retórica no cotidiano, em convencer os amigos a sair, em preparar uma surpresa para a namorada, em construir um casamento, em criar filhos, em se relacionar no trabalho e com a sociedade. Sim, somos retóricos. O ser humano quando deixa de ser retórico, morre. Morre por não conseguir mais questionar a vida. Não conseguirá mais questionar aos outros, nem a si próprio, não questionará o porquê de suas atitudes, o porquê de suas escolhas, de suas ideias, de seus relacionamentos. O homem que não é retórico tende ao fracasso intelectual. Seria ele, novamente, classificado como da mesma ordem de qualquer outro animal da terra. Seria a personificação da violência, ou mesmo a animalização da civilidade. Seria a ditadura dos macacos. Questiono-me sobre o que nos separa dos animais. Convencionou-se de que é a racionalidade, reivindico que seja, sobretudo, a retórica. 




[1] HANSEN, João Adolfo. Instituição Retórica, técnica retórica, discurso. Revista matraga, Rio de Janeiro,v.20,n.33, 35p, jul/dez, 20013. Disponível em: http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga33/arqs/matraga33a01.pdf> Acesso em: 25/05/2014
[2] Nesse caso, quando pensamos sozinhos sobre algo, e deliberamos sobre isso, criamos um interlocutor para nós mesmos. O dialogismo, nesse sentido, é inerente à linguagem. Dessa forma, a retórica é sustentada pelo princípio de alteridade, pois sempre pressupõe o outro na interação.
[3] MEYER, Michel. La problématologie. Puf: Paris, 2010.
[4] A “queda” aqui se refere à doutrina judaico-cristã que entende que o homem tenha “caído” após o pecado adâmico, destituído dos benefícios que obtinha no jardim do Éden. Existem diversas correntes do cristianismo que problematizam a questão da queda, o que torna o próprio acontecimento como algo também retórico (no verdadeiro conceito do termo).  


Existem coisas que são posteriores e outras que são simultâneas.  Geralmente, o que é simultâneo nos atrai mais a atenção, assim como os prazeres, majoritariamente da ordem do imediato. O que queremos de fato é sentir, como numa ânsia pela resolução do desejo. Não só por desejar sentir, mas também pelo ter, algo falsamente acabado, sendo menos uma questão de buscar o melhor de si próprio, do que apenas alimentar paixões temporárias. Sim, temporárias! Pois o que não é sólido não se perpetua no tempo.  Mas o ser humano é tendencioso para as coisas simultâneas, não que eu veja em todas elas o mal completo (algumas são dignas, como o próprio cuidar da saúde que é simultâneo à vida, tal como nos afirmou Aristóteles na Retórica), e sim percebo que faz parte da constituição da nossa natureza. Somos breves! Somos breves e muitas vezes levianos, pois sempre fundamentamos nossas decisões em paixões, em intuições, ou em qualquer coisa da ordem do puramente sensível. No entanto, existe algo da ordem do posterior, a saber, do que se solidifica aos poucos, paulatinamente. O conhecimento é algo dessa ordem, pois, como posterior à aprendizagem, necessita de tempo para se corporificar. O que me parece bastante razoável, pois a vida é tão corrida que, às vezes, afirmamos coisas “desconhecidas” por falta de paciência intelectual. Eu mesmo, no que diz respeito a isso, já muito fiz, “esbaforido” para poder dizer que sabia algo. Tenho aprendido a esperar mais, pois o conhecimento é como o fruto que amadurece com o passar das manhãs, que apesar das incoerências do tempo- entre chuvas, temporais e dias fervorosos de sol- resiste e se fortalece. 
       Conhecimento dói, mas nasce. A natureza clama pela fadiga, e que assim desistamos de persegui-lo. Mas eu insistirei, e quero eu que todos vocês, que eventualmente vierem a ler este comentário, também o façam. Não escrevo isso aqui aleatoriamente, tenho sentido certa preguiça nas pessoas quando o ponto em questão é pensar o mundo. Mas quando não pensamos nós mesmos, outros pensarão por nós, e corremos o risco de que essas pessoas não pensem direito. O mundo é deliberativo, sempre depois das discussões urgem as ações, e estas estão cada vez mais desesperadas. Enfim, sem mais delongas, busquemos o conhecimento, aventuremo-nos pelos caminhos da aprendizagem, e que nos tornemos, assim, opinadores em bom tempo, sem pressa, pacientes, e avessos a qualquer imediatismo.     

TRANSCRIÇÃO[1] DO DISCURSO DO PRESIDENTE LUIS INÁCIO LULA DA SILVA NA OCASIÃO DO FÓRUM MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS EM BRASÍLIA, NO DIA 12 DE DEZEMBRO DE 2013. [2]
ESPAÇO SEM ÁUDIO DO DISCURSO [3]
[...]
O que está escrito pra falar aqui, já vem sendo dito pelas pessoas desde o dia 10, e eu não vou ficar repetindo o que já falaram. E dizer aos companheiros: se tem uma coisa que não me assusta, é protesto. (GRITOS E APLAUSOS) Porque eu nasci assim. Não teve ninguém na década de 80, de 90, que protestou mais do que eu. Que enfrentou a polícia mais do que os trabalhadores, e foi isso o que nos permitiu chegar até aqui, e chegar à Presidência da República. E eu digo sempre o seguinte: nós governantes precisamos ter consciência de que a democracia exige de nós muita compreensão, de que, por mais que você faça as coisas, sempre haverá algo a ser feito. E por mais que você faça, sempre haverá alguém querendo conquistar mais. E isso é próprio da democracia. E somente a democracia permitiu que um metalúrgico chegasse à presidência do Brasil. Somente a democracia permitiu que um índio chegasse à Presidência da Bolívia. Somente a democracia permitiu que um negro chegasse à presidência da República dos Estados Unidos e somente a democracia permitiu que uma ex-guerrilheira chegasse também à presidência do Brasil. Permitiu que uma ex-guerrilheira, condenada a muitos anos de cadeia, torturada, Dilma Rousseff, chegasse a presidência da República desse país. Eu digo estas coisas, porque a gente vai ficando velho, e a gente vai ficando mais “compreendedor” das coisas. Quando a gente é jovem, a gente chega em casa, e pede uma prato de comida, e a mãe coloca comida, e a gente fica reclamando que falta. A gente não reconhece o que tá na mesa. Sequer a gente se lembra que a mãe da gente não tinha todos os condimentos para fazer a comida. Sequer a gente se lembra que faltava o dinheiro para comprar a carne que a gente queria. Sequer a gente se lembra da quantidade de queimadura, da quantidade de óleo que espirrou na cara dela, e ela fazer a comida pra colocar pra gente,  e a gente senta na mesa e fala: “eu não gostei”, “eu não gosto disso”, “falta isso”, “eu preciso daquilo”, como se a mãe fosse culpada das coisas. Eu não esqueço nunca, quando um filho da gente pede cinco reais pra ir pra um lugar, e a gente fala que não tem, e ele sai dizendo: “porra, coroa atrasado, não lhe compreendo”. Ele nunca pergunta: “ Você tem dinheiro?”. Ele pede o dinheiro. Então, é por isso que eu gosto de falar com vocês, porque eu vou dizer pra vocês um negócio: Se eu tivesse medo de cara feia, eu nem teria nascido. (GRITOS E APLAUSOS). Porque, certamente, certamente, se eu tivesse medo de cara feia, quando eu me olhasse no espelho, eu morria. Então, meus companheiros, eu estou aqui para dizer o seguinte:  a gente tem o direito de reivindicar tudo o que falta pra gente. Mas a gente não pode negar os avanços que esse Brasil teve. A gente não pode negar. E eu me orgulho, de ter sido eleito presidente da república desse país, depois de três derrotas, quando muitos teriam desistido, eu teimei, porque eu queria provar que um operário metalúrgico tinha mais competência para governar este país que a elite brasileira que governou este país tanto tempo. Eu queria provar que seria um torneiro mecânico sem diploma universitário, que passaria para a história como o presidente da república que mais fez universidades públicas neste país. Eu queria provar, que era possível um metalúrgico desse país fazer em oito anos mais dois da Dilma, duas vezes e meia a quantidade de escolas técnicas que a elite brasileira fez em um século. E é importante a gente compreender que este país não foi atrasado à toa. Eu digo sempre aqui, meu caro vice-presidente da Colômbia, que o Peru, que é um país menor do que o Brasil, que o Perú que é um país mais pobre que o Brasil, em 1550 o Peru já tinha a sua primeira universidade, e o Brasil só veio ter a sua primeira universidade em 1930, quase 400 anos depois. Isso explica o atraso do Brasil com relação a tantos outros países da América do Sul, países como Chile, Uruguai, Argentina, que tem a educação mais qualificada do que nós. Mas é necessário compreender que nós nunca tivemos tanta gente da periferia estudando pra “doutor” neste país. (GRITOS E APLAUSOS). É importante lembrar, é importante lembrar, que nós nunca tivemos tantos meninos e meninas negras estudando  nas universidades desse país. É importante lembrar, que nós nunca tivemos tantos índios fazendo universidade como nós temos hoje. Eu acabei de voltar, de receber um título de Doutor honoris causa  na Universidade Federal do ABC. Na Universidade Federal do ABC, 50% dos alunos são jovens da periferia. Possivelmente, seja a universidade que mais tenha operário e filho de operário estudante. E isso não é um conquista social. Isto, Maria do Rosário, chama-se Direitos Humanos: dar ao pobre o direito de ser doutor (GRITOS E APLAUSOS); Dar ao pobre o direito de ser engenheiro; dar ao pobre o direito de ser médico, dar ao pobre o direito de ser diplomata, dar ao pobre o direito de discutir o mercado de trabalho em igualdade de condições. Eu sei o quanto uma parte da elite brasileira me odeia. Eu sei, é só ler a imprensa que a gente vê. Eles não toleram o pobre estar andando de carro. Eles não toleram a mulher do pobre estar usando perfume, que a madame coloca na sexta-feira pra ir num jantar, e a empregada doméstica coloca na segunda-feira para ir trabalhar (GRITOS E APLAUSOS). Eu sei quanta gente fica incomodada com as conquistas sociais, afinal de contas tem pobre andando a pé, fazendo caminhada no Parque do Ibirapuera. Tem gente comendo em restaurante que só os ricos comiam. Tem gente comendo carne que só os ricos (sic) comia. Ah, como incomoda nesse país, pobre viajar de avião. Como incomoda nesse país. E andar de avião, minha cara, não é luxo não. Chame isso de conquista dos Direitos Humanos, significa Direitos Humanos. Era gostoso andar de avião quando o banco do meio ia vazio, porque não tinha passageiro. Hoje tá lá. Pode ver que muitas das pessoas que vieram aqui, muitas vieram de avião. Muitos vieram de avião. Eu lembro que os congressos que a gente fazia, que era tudo de ônibus. Eu sei dos congressos que a gente fazia que as pessoas iam de ônibus, e ainda, a gente dormia em hotel com colchão de capim. É por isso que nós chegamos até aqui. E é por isso que nós fizemos o que nós fizemos. E é por isso que nós podemos nos orgulhar, que não tem nenhum país do mundo que tenha feito a quantidade de transferência de renda, que nós fizemos nesse país.  É por isso que o salário mínimo aumentou o tanto que aumentou. É por isso que em dez anos, nós desapropriamos, pra efeito de reforma agrária, 56% de toda a terra desapropriada em 500 anos desse país. Ainda falta fazer? Falta! Falta fazer! É possível cuidar melhor dos índios? É! É possível cuidar melhor dos negros? É! É possível cuidar melhor e acabar com a violência? É! Nós temos muito o que fazer. Então nós vamos fazer. Se a gente tiver consciência de que isso é uma caminhada. É uma caminhada em que todos nós temos que (sic) tá juntos. É uma caminhada que nós temos que aprender. Eu lembro, eu lembro da primeira vez que eu fui visitar o Mandela em Pretória. Eu lembro quando eu fui em Pretória, o povo, o povo tava contente. Não é porque o Mandela tinha conseguido resolver os problemas da pobreza. É porque o Mandela tinha recuperada uma coisa mais sagrada do que dinheiro.  Ele tinha recuperado a dignidade da maioria negra, que era explorada e torturada naquele país. (APLAUSOS). Eu lembro de como o povo, eu lembro da primeira vez que eu recebi os catadores de material reciclado dentro do Palácio da Alvorada. Eu lembro quando nós demos a palavra pro representante dos catadores, e ele falou:”Presidente Lula, presidente não, Companheiro Lula, permita-me chama-lo de companheiro. Eu não tenho uma reinvindicação pra fazer, porque nada que o senhor me atender é mais importante do que eu estar aqui, dentro desse Palácio, que só entrava “gran fino”. Só entrava Príncipe, Rei, Presidente, Empresário. O pobre não entrava. Eu lembro quando nós fizemos a primeira reunião com os hansenianos dentro do Palácio. Eu lembro quantos hansenianos não acreditavam que fosse possível alguém recebe-los dentro do Palácio, e beijar um por um, sem nenhum preconceito. Isso chama-se “Conquista de Dignidade”, e “Conquista de cidadania”. Eu não tenho nenhum problema. Aceito. E é por isso que fizemos as conferências nacionais. O maior legado que eu deixei pra esse país não foi o Bolsa Família, não foi o aumento de salário mínimo. O maior legado que eu deixei para esse país foi criar uma outra relação entre o Estado e a Sociedade. Foi fazer 74 conferências, e eu participei de quase todas. Eu lembro quando eu vim na reunião do LGTB. Eu lembro quando eu vim, diziam pra mim: “Ô Lula, você não pode ir. Você não pode ir, porque pode um travesti te abraçar. Cuidado com a fotografia. Eles vão te criar problema. Eu vim. Eu vim. Tratei eles com respeito, e fui tratado com respeito e dignidade, porque neste país, neste país, eu sei do preconceito quando a gente tenta resolver os problemas dos quilombolas. Vocês acham que é fácil? Tá cheio de empresário que fala pra mim: “ Primeiro era índio, depois Sem-Terra, agora é quilombola. Quando é que vai sobrar terra pro fazendeiro?”. Vai sobrar, quando os pobres um dia tiverem as terras que um dia foram deles, porque eles tomaram (GRITOS E APLAUSOS). Agora, é importante a gente ter em conta que o país tem Constituição. É preciso medir a correlação de forças nesse partido. No Congresso Nacional (conserta). A gente não pode fazer o que quer. Quando o Paulinho era secretário, que nós aprovamos o Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, vocês viram a quantidade de porrada que nós tomamos durante vários meses. E quando a gente não tem maioria, a gente tem que ter competência de negociar. E mesmo que a gente tiver maioria, a gente não pode massacrar a minoria. Nós temos que trata-la com respeito, e negociar, porque isso é exercer. Eu participava das conferências. Quantas pessoas falavam mal do governo? Quantas pessoas desancar do governo. Não me chamavam de Excelência, me chamavam de “Companheiro” e “Paulo Companheiro”. E eu nunca me ofendi por isso. Nunca. Eu achava que democracia era isso. É as pessoas falarem o que querem. É as pessoas dizerem aquilo que querem, porque, nós governantes, vamos aprendendo com as críticas. E nós governantes, muitas vezes somos cercados de um monte de companheiros que só falam coisas boas pra gente. E nós temos que ouvir, de vez em quando, as coisas que não falam pra gente. E muitas vezes é o povo que está descontente, e nós não perguntamos: “Por que é que está descontente?” Muitas vezes as pessoas falaram, muitas vezes as pessoas votaram na gente, e uma semana depois  (sic) tão contra, porque ,  quem sabe, nós não tenhamos  feito o que as pessoas queriam que fosse feito. Portanto, companheiros e companheiras, eu digo do coração: “feliz o país que tem uma presidenta do caráter da companheira Dilma Rousseff, da história da Dilma Rousseff, e do compromisso da Dilma Rousseff. Feliz o país!”. Vocês sabem o que essa companheira sofreu pra ser eleita presidente? Vocês sabem que o preconceito que ela sofreu na campanha, vocês sofrem diariamente? Porque esse país avançou. As mulheres, Maria do Rosário, as mulheres já alcançaram 179% no mercado de trabalho. As mulheres evoluíram, mas não houve a mesma quantidade de homens indo pra cozinha. (APLAUSOS). Significa, que aumentou o trabalho das mulheres. Aumentou aquela história, aquele preconceito que a gente tinha, que perguntava pra mulher “Ô companheira, você trabalha?- Não- E o que é que ‘cê’ faz? – Sou doméstica!”, como se um trabalho doméstico -limpar casa, limpar banheiro, trocar fralda, colocar comida pra criança, mandar a criança pra escola, receber criança, preparar janta, fazer comido pra marido- não fosse trabalho. É um trabalho mais escravo do que qualquer outro trabalho na história da humanidade (GRITOS E APLAUSOS). É por isso...eu não sei se a Maria da Penha está aqui, eu acho que eu nunca falei tanto da Lei Maria da Penha, como eu falei na campanha de 2006. Antigamente o cara maltratava a mulher, depois pagava uma “pensãozinha” e estava resolvido o problema, ou uma cesta básica. Agora não! Não queremos mais cesta básica. Agora o que queremos é que um cidadão que levanta a mão pra bater numa mulher, ele tenha vergonha, porque mulher não nasceu pra apanhar. Ele tenha vergonha, porque mulher...mulher...e por isso é que eu acho importante se a mulher trabalhar. Quando a gente fala que a gente não avançou, é importante a gente lembrar que a mulher não votava em 1934. É importante a gente lembrar, que o primeiro voto da mulher foi conquistado na Justiça, na cidade do Mossoró, no Rio Grande do Norte. Então gente, nós evoluímos. E vou dizer pra vocês algumas coisas que falta fazer nesse país, e que eu tenho certeza que a Dilma vai fazer, e se ela não fizer tudo, nós vamos ter que fazer pra frente, e se nós não fizermos, ninguém vai fazer. Eu queria dizer, ou seja, nós ainda precisamos universalizar o ensino básico nesse país. Nós precisamos universalizar, da creche à Universidade. Nós já avançamos no ensino fundamental, mas nós precisamos universalizar...Por isso , é importante a gente lembrar, que a gente tinha  33 bilhões para a educação, e já estamos com mais de 100 bilhões para a educação, e é importante lembrar que 75% do dinheiro dos Royalties  do Pré-Sal será pra recuperar o prejuízo histórico desse país com a educação. Mas não é só a educação! Não é só a educação! A Presidenta Dilma teve um ato de coragem extraordinário criando mais médicos. Mais médicos. E é importante a gente ter consciência que um país como Cuba, que vive há 60 anos com bloqueio, que é um país que passa necessidade, tenha a coragem de exportar médicos, não apenas para o Brasil, pra dezenas de países que são economias grandes e que não tem médicos. Porque neste país aqui, neste país aqui, a elite brasileira achava que pobre não precisava ser tratado. Pobre não precisava de médicos. Pobre pode morrer, porque tem demais. E a Dilma deu uma demonstração. Nós vamos trazer médicos de onde tiver. Porque o que nós queremos é que o povo brasileiro seja tratado com respeito, com decência e com dignidade. Por isso companheiros, Paulinho Vanuca ficou uma vez nervoso comigo, porque eu fui visitar o pai do companheiro Genoíno em Quixeramobim, e cheguei lá , um velhinho de mais de oitenta anos, trabalhando de sol a sol, sem ter o que comer. E eu falava pra o Paulinho Vanuca: “ô Paulinho, pelo amor de Deus, não dá pra gente colocar a fome nos direitos humanos? Não dá pra gente colocar o direito de comer, o direito de estudar, o direito de sonhar, o direito de ter acesso à cultura, o direito de ter acesso à educação. Tudo isso é Direitos Humanos, gente! Por isso, é que na questão da cultura, os pontos de cultura fossem importantes. É por isso que o Vale Cultura, que permite que o pobre possa ir num teatro hoje é importante. É pouco? É! Eu sei que é pouco. Eu fico pensando naquilo que nós não fizemos, e eu lembro da coitada da Marisa. Eu tô casado há 39 anos, tanta coisa que eu prometi pra ela, e ainda não consegui cumprir. E ela que não me reivindique mais, porque agora é que eu não posso cumprir mesmo. Agora é que eu não vou conseguir atender. Mas ela sabe que o que eu fiz era aquilo que eu podia fazer. Portanto, eu agradeço a compreensão, e quero agradecer, companheiros, a compreensão de vocês por algumas coisas. Eu quero agradecer a compreensão de vocês porque eu sei como o pobre é tratado nesse país. Se alguém já passou necessidade aqui...Vocês querem discutir como é que vive alguém que foi vítima de enchente? Pergunte pra mim. Porque não foram poucas as vezes que eu levantei uma hora da manhã com merda passando na minha cama, com rato, com barata. Querem perguntar pra mim como é que vive sem comer? Pergunte que eu sei o que é a lombriga maior comer a menor. Eu sei como é que é, sabe? Ter como mistura apenas Tanajura quando chovia, ou quando fazia tempo de Tanajura. Querem falar como é que bebia água não-potável? Fale comigo, que ia no açude buscar água no pote,e que tinha mais lama, mais merda de animal do que qualquer outra coisa. E eu quando vim de Pernambuco pra cá só tinha barriga. A perna era mais fina que o dedo de vocês. A barriga era maior do que a que eu tenho hoje, de verme, de doença. E é por isso que nós resolvemos priorizar os pobres desse país. É por isso que nós fizemos a maior ascensão social da história desse país. E é por isso que eu sei que falta muita coisa, companheiros. Mas estejam certo de uma coisa: nós, nós vamos fazer muito mais. Pode-se fazer muito mais. Quem quiser torcer contra, que torça. Eu conheço a Dilma há apenas dez anos, ela foi minha ministra. A mulher. A mulher, que passou pelo que a Dilma passou, e faz o que ela faz, com o bom-senso que ela tem, meus filhos, podem ficar certo, que esse país tem que ter motivo de orgulho. Motivo de orgulho pela presidenta que elegemos. Portanto companheiros e companheiras, Maria do Rosário, eu quero dizer pra vocês, que nós temos que continuar avançando na questão dos Direitos Humanos. Nós temos que começar. A comissão da verdade...é que eu não quero falar o que já foi falado, meu filho. Se eu for falar tudo o que já falaram aqui, vai ser um repeteco. Mas as pessoas de bom senso, as pessoas de bom senso sabem o que já foi feito neste país.  E as pessoas sabem que podem continuar reivindicando. Não tem problema. Podem continuar reivindicando. Porque quanto mais o povo reivindica, mais a gente sabe que tem que atender o clamor do povo. Nenhum presidente do mundo teve a coragem que a Dilma teve com as manifestações de Julho. Nenhum presidente. Ela teve coragem de encarar as manifestações. E o que me preocupa não é a reivindicação- eu quero mais saúde, eu quero mais dentista, eu quero mais médicos, eu quero combater a corrupção- tudo isso nós já carregamos essa bandeira. Eu tenho bursite de carregar bandeira contra tudo isso. Eu tenho bursite de reivindicar o fim do FMI, agora veja, veja uma coisa interessante: o que a gente não pode aceitar é a negação da política. Quando vocês verem um jovem rebelde, bem rebelde, dizendo: “ não gosto de política”, “ eu não acredito nos partidos políticos”, “eu não acredito no governador”, “eu não acredito no prefeito”, “eu não acredito no deputado”, quando vocês encontrarem um jovem rebelde dizendo que ninguém presta, ainda assim, convença esse jovem que ele não pode negar a política. Porque se ele nega a política, ele vai apenas cumprir uma profecia: a desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta. (GRITOS E APLAUSOS). Ah, eu acho extraordinário como a imprensa tenta criar uma imagem negativa da política. Eu acho fantástico. O dia em que um jovem não gostar de política, o dia em que ele falar que ninguém presta, como eu falava em 78...vocês são muito jovens, mas em 78 eu falava assim: “ Eu não gosto de política, e não gosto de quem gosta de política”. Quando eu falava isso, eu era manchete de jornal. Eles diziam: “ Agora sim nascia um operário puro, um operário puro, que não gosta de política. Esse sim é o nosso operário.”  E dois anos depois eu inventei o PT e eles deixaram de gostar de mim. Então, eu queria terminar dizendo para aqueles que não gostam de política, aqueles que acham que todo mundo não presta, deveria pensar o seguinte: se você não acredita nos políticos, e você quer um político honesto, decente e combativo, entre na política. Porque o político que você quer está dentro de você, não está dentro de mim. A negação da política é o fascismo. A negação da política nós vimos no que deu no planeta Terra. Nós vimos agora a Primavera Árabe. Primeiro derrubaram o Mubaraki. Maravilhoso, derrubaram o Mubaraki. Depois elegeram o Morsi. Ótimo, elegeram o Morsi! Depois derrubaram o Morsi. Ótimo, derrubaram o Morsi. Quem é que tá no governo? Uma junta militar! Então queridos companheiros, só tem um jeito: é a gente acreditar e fortalecer a democracia. E eu acho o seguinte: só é possível estabelecer a democracia se a gente tiver a coragem de mostrar a nossa cara. Se a gente não tiver coragem de mostrar a cara, não tem democracia. Não tem! Eu não tenho aptidão pra Zorro, pra mascarado. Minha posição é a seguinte: falar o que tem de falar, a luz do dia, pra as pessoas  aprenderem a respeitar a gente. Quando eu era dirigente sindical, eu ia na porta da  fábrica uma hora da manhã às sete horas da manhã, falar coisas que muita gente não tinha coragem de falar. E é assim que nós temos que funcionar. Avançar na conquista dos Direitos Humanos! Significa exercer mais democracia, significa exercer mais conquista social, significa valorizar os pobres desse país. Por isso companheiros, viva a presidenta Dilma Rousseff! Viva a conquista dos Direitos Humanos! E viva a nossa querida ministra Maria do Rosário! Um abraço e até outro dia, se Deus quiser. (GRITOS, APLAUSOS E CANTOS).
CANTO : “LULA, GUERREIRO DO POVO BRASILEIRO!” .



[1] Transcrição feita pelo pesquisador mestrando em Estudos Linguísticos (Análise do Discurso) Rodrigo Seixas Pereira Barbosa (CNPq), da Universidade Federal de Minas gerais (UFMG-POSLIN).
[2] Todos os créditos são da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a quem agradeço bastante pela possibilidade de usar esse pronunciamento em minhas pesquisas. Todos os créditos de direito são então reenviados a EBC.
[3] No material enviado pela EBC, os primeiros cinco minutos do pronunciamento vieram sem áudio.


Assunto inacabado está quando nos referimos à noção de justiça. Longe de querer ser um filósofo jurídico(o que não sou), apenas me inquieto com tamanha convicção por parte de alguns em saber o que é justo e o que não é justo. Ou ainda pior, saber o que é injusto, não apenas pelo simples fato de ser oposto ao que é justo, mas também por se aproximar mais do que é mesmo imoral. Por muito tempo questionou-se sobre a origem das coisas, e se a justiça humana e as disposições legais são apenas convenções sociais com objetivo de manter a ordem pública. Decaiu-se a percepção da existência de uma “Justiça” com J maiúsculo, anterior e superior a qualquer outra noção de justiça. Segundo os metafísicos, principalmente Platão, os homens não sabem o que é a justiça por não conhecerem sua essência. Ao contrário, permanecem no nível das aparências, que são o modo como as coisas aparecem aos homens e o modo como estes a percebem por meio das sensações e dos sentidos. Ademais, as aparências constituem o mundo sensível, cada um se apega a um aspecto das aparências e o transforma em sua certeza, em sua “verdade”. Como cada um percebe o mundo de maneira diferente, as opiniões que disso resultam também são variadas e divergentes, isso sem contar que as opiniões ainda podem esconder interesses pessoais.
Parece-me pois, ainda estar bastante atualizada a análise de Platão, pois vivemos numa sociedade em que as leis não correspondem ao senso maior de Justiça, mas apenas às pequenas justiças, em grande parte coerentes em beneficiar aqueles que têm mais força social. Se pergunta pois, se haveria uma Justiça superior, e a resposta é positiva, com a concessão de haver um pensamento para além da opinião e dos interesses pessoais. O que aí torna-a impossibilitada. Essa é a questão e esse é o caos que ainda vivemos em todas as esferas onde se presume uma base justa, um senso justo. Aplica-se assim também na política, ramo movido por interesses isolados e particulares, que privam-se do genuíno papel de buscar e promover o bem comum. Soa como enfadonho e fantasioso acreditar que o senso de justiça é algo anterior à formação social. Resta-nos pois, ter fé. Acreditar que a solução parte de nossas inquietações e entender que a inércia não move nada, por isso urge a nós fazer algo.

 É nesse caos da virtude que ilustro o tema e finalizo o pensamento, ainda em Platão,  com a alegoria da caverna que abre o Livro VII de A República. Segundo a alegoria, o mundo sensível é como uma caverna em que os homens se encontram acorrentados de tal modo que só podem olhar para as paredes escuras. Atrás deles há uma fogueira cuja luz projeta na parede sombras obscuras- a única realidade, para esses homens. Mas um deles consegue escapar. Fora da caverna, a intensa luz do Sol ofusca-lhe a visão. Os olhos, porém, acostumam-se à claridade e ele vê a verdadeira e bela realidade: o mundo inteligível. Maravilhado, não pode deixar de voltar à caverna, a fim de comunicar aos companheiros a sua descoberta. Mas eles não o compreendem. Riem e, depois, matam-no. Assim é quando se luta pela verdadeira justiça em nosso país, ao apresentá-la se é caçado, se é renegado, se é morto. Entretanto, é possível ter um desfecho diferente. Ao entrar na caverna novamente, devemos estar verdadeiramente preparados para eventuais ataques contra a boa fé.

             Já há algum tempo tenho vontade de escrever e compartilhar com vocês algumas reflexões sobre uma doutrina que acho ser coerente nos dias de incerteza que vivemos hoje: a doutrina do equilíbrio.  Prefiro fugir dos tons da dúvida kafkiana, mesmo que concordando em grande parte com a ideia do caos que vivemos. É justamente por acreditar no caos, que luto pela ordem. E a ordem me veio através da ideia do equilíbrio.
           Equilíbrio é algo difícil de ser conceituado, visto que cada ser humano pode admitir uma noção distinta do que vem a ser o termo. Passo então a convencionar a qual noção de equilíbrio me refiro. Do Dicionário Aurélio, gosto particularmente do primeiro conceito que diz que equilíbrio é " o estado de repouso de um corpo solicitado por várias forças que se anulam". Para a sociologia o conceito é semelhante: "Equivalência de forças antagônicas num sistema fechado de inter-relação dinâmica". Sabendo que, num campo de forças dinâmicas que se entrecruzam, disperssam-se e atravessam-se, tornando difícil perceber as nuances marcadas de cada pensamento, o cenário social não nos permite acreditar num total equilíbrio.
            Fato é que nunca seremos completos em tudo, a incompletude é da natureza humana. Precisamos então discernir algumas coisas e procurar compreender no passado as premissas para o futuro. Foi possível ver então, em minhas análises, que muitas das mazelas do mundo se dão pela falta de equilíbrio, ainda que este seja incompleto ou utópico. Posso, por exemplo, trazer como alusão ao tema, a questão da direita e da esquerda (tema que me debruçarei com mais afinco na continuação desta série de reflexões), que insistem em "partidarizar" o "impartidarizável'. Muito se foi perdido em termos de avanço do nosso país, pois os partidos de oposição, quando entravam no poder, queriam mudar tudo, inclusive o que vinha dando certo por mero orgulho partidário. Exato, falta-nos equilíbrio. Falta-nos equilíbrio em querer aproveitar certo modelo que tem dado certo, e incrementar com outras soluções reformadoras, que se contrapusessem às antigas que não vinham tendo êxito.
           Esse equilíbrio foge ao senso comum do "meio termo" ou do "em cima do muro". Pelo contrário, o equilíbrio é a otimização das soluções que realmente poderão dar certo. Isso consiste em analisar minunciosamente cada atitude e cada pensamento. Cabe a esquerda entender o que há de bom na direita? Sim! Cabe a direita concordar com algumas ações da esquerda? Também sim, desde que em ambos os casos haja uma verdadeira coerência nas atitudes. Reitero, chega de partidarismo! Precisamos pensar! Precisamos parar e analisar! Nada mais educativo do que entender as consequências das diversas ações dos governos. Nada mais virtuoso do que, antes de proferir palavras viciadas pelas ideologias dominantes, buscar expandir o nível dos pensamentos com leituras analíticas sobre a história da política mundial. Resta a nós decidir se queremos ser mais um alienado que segue a manada política, ou se queremos admitir a individualidade e a racionalidade, expandindo a consciência política através do verdadeiro conhecimento. 
          Por fim, longe de ter as respostas para tudo, apenas me proponho a analisar os excessos, a entender os percalços políticos que geram as máximas partidárias. Quero abrir os olhos de quem me lê para que enxerguem que o equilíbrio está em entender mais a si mesmo e ao mundo, entendendo também, por conseguinte, todas as relações que se insiram na teia social. Quero lutar contra o engano intelectual. Desejo que os próximos textos da série gerem boas discussões sobre política e desejo que as minhas ideias não sejam o manual do politicamente correto, ou do padrão de política coerente, mas sim, desejo ser mais um opinador, que não corrobora com a brincadeira partidária, com o falso carisma, com as promessas infundadas, com o orgulho desvairado. Se possível for, gostaría de ser mais uma mente que tenta acordar os seus pares para o caminho da discussão consciente. E por enquanto é só.