Nada muito a dizer além do que eu já tenho dito. Mas, tentarei, em breves considerações, esperando que essas breves sejam as mais duradouras na mente de cada um, simplificar o pensamento que tanto me dilacera. Dói a dura percepção de que o brasileiro tem desistido do senso público, na verdade, do bom-senso público.  Estamos cada vez mais desinteressados por aquilo que, comprovadamente, atinge a nossa vida de forma direta.  Não faz mal, nada machuca, o que vale é o futebol do domingo. Então, eu abro essa concessão, respeito a vontade do brasileiro. Vamos falar de futebol.  O meu time, Flamengo, por exemplo, classificou-se para a semifinal da Copa do Brasil. O meu pai, botafoguense “roxo”, disse que isso aconteceu porque o time do Flamengo enfrentou um time fraco (o mesmo que desclassificou o grande time do Fluminense no maracanã).

Ainda no jogo do Flamengo: o zagueiro Marcelo, que já tinha amarelo, faz falta por trás e toma o segundo amarelo e, por consequência, o vermelho. A falta, visualmente, de fato, não foi lá essas coisas todas, mas o juiz é quem julga e aplicou a norma: pontapé por trás, é amarelo. A torcida aplaudiu o jogador, que desfalca o time do Flamengo para o próximo jogo. O técnico Vanderlei Luxemburgo, ao contrário, não ficou nada satisfeito e nem feliz com o ocorrido. Algo mais sensato, vindo do gestor, tendo em vista que o Flamengo não tem bons zagueiros no banco de reservas.  

Tudo isso parece se tratar apenas de notícias de futebol, mas há princípios aí inseridos que muito me preocupam. O primeiro deles, é que o brasileiro prefere desviar o assunto, arrumar uma desculpa para diminuir o feito adversário, do que reconhecer o que aconteceu de fato. O segundo, é que preferimos deixar a paixão do momento falar mais alto do que a razão que fundamenta o que é bom e justo. Bom é criticar e atacar, bom é aplaudir aquele que perverte a norma. Isso está no nosso sangue. Somos cordiais, tal como já falava Sérgio Buarque de Holanda na sua magnânima obra Raízes do Brasil. Cordial, no sentido de que agimos pelo coração. Lembro da exposição do professor Leandro Karnal quando disse que somos cordiais para o bem, e ainda mais cordiais para o mal. Odiamos juntos, somos bons em atacar, somos bons em desfazer, somos bons em aplaudir quem está errado, gostamos de quem bate.


O mensalão? Não houve, foi golpe da mídia. Financiamento de campanha por corrupção e “caixa 2”? Mentira, é o pessoal que inventa isso. O escândalo da Petrobrás? Mais uma vez coisa da mídia para retirar o PT do poder. Mentir números sobre dados econômicos e sociais, e sobre feitos dos adversários? Quem não faz isso? A política tem dessas coisas. E, enquanto isso, vamos aceitando, com aplausos, a irresponsabilidade dos governantes (de qualquer partido que seja), a roubalheira dos cofres públicos, o financiamento de campanhas com dinheiro governamental, a terceirização de culpas (é mais fácil colocar a culpa nos outros, afinal), a tergiversação (termo recorrente nessas eleições) sobre o que é realmente útil aos brasileiros. 

O que sobra? Ataques, baixo calão, de todas as partes, como se os telhados não fossem todos de vidro, como se a sujeira não fosse algo comum entre eles. O que vai ser nos próximos quatro anos? Não sei. Campeonato brasileiro tem todos os anos, talvez o Cruzeiro seja de novo campeão, talvez o meu Flamengo consiga essa proeza (coisa difícil), talvez o governo seja bom ou ruim. Se ruim, ao contrário do campeonato brasileiro, só teremos uma nova versão daqui a quatro anos (e olhe lá, às vezes o brasileiro não quer saber de outra versão).  Mas, quanto ao futuro do governo, o que podemos dizer é que nada sabemos, pois não há propostas.  O céu está turvo adiante, e estamos sendo guiados por cegos. Façamos o que fazemos de melhor. Regozijemo-nos com a dramaturgia do horário eleitoral (combo de drama, comédia, terror), e somos bons com novelas. Agrupemo-nos também, somos unidos, com a cordialidade do ódio em conjunto, ou do amor irracional. Tomemos uma cerveja e brindemos a democracia! No fim, o que me consola, é que ainda podemos escolher o time que quisermos para torcer, pois é disso que se trata, de torcida, sem que sejamos taxados de “desmemoriados, elitistas, tapados, burros, inconsequentes”, e coisas dessa ordem. Sabemos torcer, isso sabemos, e gostamos de ataques. Por isso, torçamos nós, rubro-negros, para que o nosso centroavante, Alecsandro, recupere-se logo do afundamento de crânio, ou estaremos sem muito ataque até a próxima temporada.  E isso nos traz angústia.  

Rodrigo Seixas