TRANSCRIÇÃO[1]
DO DISCURSO DO PRESIDENTE LUIS INÁCIO LULA DA SILVA NA OCASIÃO DO FÓRUM
MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS EM BRASÍLIA, NO DIA 12 DE DEZEMBRO DE 2013. [2]
ESPAÇO
SEM ÁUDIO DO DISCURSO [3]
[...]“
O
que está escrito pra falar aqui, já vem sendo dito pelas pessoas desde o dia
10, e eu não vou ficar repetindo o que já falaram. E dizer aos companheiros: se
tem uma coisa que não me assusta, é protesto. (GRITOS E APLAUSOS) Porque eu
nasci assim. Não teve ninguém na década de 80, de 90, que protestou mais do que
eu. Que enfrentou a polícia mais do que os trabalhadores, e foi isso o que nos
permitiu chegar até aqui, e chegar à Presidência da República. E eu digo sempre
o seguinte: nós governantes precisamos ter consciência de que a democracia
exige de nós muita compreensão, de que, por mais que você faça as coisas,
sempre haverá algo a ser feito. E por mais que você faça, sempre haverá alguém
querendo conquistar mais. E isso é próprio da democracia. E somente a
democracia permitiu que um
metalúrgico chegasse à presidência do Brasil. Somente a democracia permitiu que um índio chegasse à
Presidência da Bolívia. Somente a democracia permitiu que um negro chegasse à presidência da República dos
Estados Unidos e somente a democracia permitiu que uma ex-guerrilheira chegasse também à
presidência do Brasil. Permitiu que uma ex-guerrilheira, condenada a
muitos anos de cadeia, torturada, Dilma Rousseff, chegasse a presidência da República
desse país. Eu digo estas coisas, porque a gente vai ficando velho, e a gente
vai ficando mais “compreendedor” das coisas. Quando a gente é jovem, a gente
chega em casa, e pede uma prato de comida, e a mãe coloca comida, e a gente
fica reclamando que falta. A gente não reconhece o que tá na mesa. Sequer a
gente se lembra que a mãe da gente não tinha todos os condimentos para fazer a
comida. Sequer a gente se lembra que faltava o dinheiro para comprar a carne
que a gente queria. Sequer a gente se lembra da quantidade de queimadura, da
quantidade de óleo que espirrou na cara dela, e ela fazer a comida pra colocar
pra gente, e a gente senta na mesa e
fala: “eu não gostei”, “eu não gosto disso”, “falta isso”, “eu preciso
daquilo”, como se a mãe fosse culpada das coisas. Eu não esqueço nunca, quando
um filho da gente pede cinco reais pra ir pra um lugar, e a gente fala que não
tem, e ele sai dizendo: “porra, coroa atrasado, não lhe compreendo”. Ele nunca
pergunta: “ Você tem dinheiro?”. Ele pede o dinheiro. Então, é por isso que eu
gosto de falar com vocês, porque eu vou dizer pra vocês um negócio: Se eu
tivesse medo de cara feia, eu nem teria nascido. (GRITOS E APLAUSOS). Porque,
certamente, certamente, se eu tivesse medo de cara feia, quando eu me olhasse
no espelho, eu morria. Então, meus companheiros, eu estou aqui para dizer o
seguinte: a gente tem o direito de
reivindicar tudo o que falta pra gente. Mas a gente não pode negar os avanços
que esse Brasil teve. A gente não pode negar. E eu me orgulho, de ter sido
eleito presidente da república desse país, depois de três derrotas, quando
muitos teriam desistido, eu teimei, porque eu queria provar que um operário
metalúrgico tinha mais competência para governar este país que a elite
brasileira que governou este país tanto tempo. Eu queria provar que seria um
torneiro mecânico sem diploma universitário, que passaria para a história como
o presidente da república que mais fez universidades públicas neste país. Eu
queria provar, que era possível um metalúrgico desse país fazer em oito anos
mais dois da Dilma, duas vezes e meia a quantidade de escolas técnicas que a
elite brasileira fez em um século. E é importante a gente compreender que este
país não foi atrasado à toa. Eu digo sempre aqui, meu caro vice-presidente da
Colômbia, que o Peru, que é um país menor do que o Brasil, que o Perú que é um
país mais pobre que o Brasil, em 1550 o Peru já tinha a sua primeira
universidade, e o Brasil só veio ter a sua primeira universidade em 1930, quase
400 anos depois. Isso explica o atraso do Brasil com relação a tantos outros
países da América do Sul, países como Chile, Uruguai, Argentina, que tem a
educação mais qualificada do que nós. Mas é necessário compreender que nós
nunca tivemos tanta gente da periferia estudando pra “doutor” neste país.
(GRITOS E APLAUSOS). É importante lembrar, é importante lembrar, que nós nunca
tivemos tantos meninos e meninas negras estudando nas universidades desse país. É importante
lembrar, que nós nunca tivemos tantos índios fazendo universidade como nós
temos hoje. Eu acabei de voltar, de receber um título de Doutor honoris causa na Universidade Federal do ABC. Na
Universidade Federal do ABC, 50% dos alunos são jovens da periferia.
Possivelmente, seja a universidade que mais tenha operário e filho de operário
estudante. E isso não é um conquista social. Isto, Maria do Rosário, chama-se
Direitos Humanos: dar ao pobre o direito de ser doutor (GRITOS E APLAUSOS); Dar
ao pobre o direito de ser engenheiro; dar ao pobre o direito de ser médico, dar
ao pobre o direito de ser diplomata, dar ao pobre o direito de discutir o
mercado de trabalho em igualdade de condições. Eu sei o quanto uma parte da
elite brasileira me odeia. Eu sei, é só ler a imprensa que a gente vê. Eles não
toleram o pobre estar andando de carro. Eles não toleram a mulher do pobre
estar usando perfume, que a madame coloca na sexta-feira pra ir num jantar, e a
empregada doméstica coloca na segunda-feira para ir trabalhar (GRITOS E
APLAUSOS). Eu sei quanta gente fica incomodada com as conquistas sociais,
afinal de contas tem pobre andando a pé, fazendo caminhada no Parque do
Ibirapuera. Tem gente comendo em restaurante que só os ricos comiam. Tem gente
comendo carne que só os ricos (sic) comia. Ah, como incomoda nesse país, pobre viajar
de avião. Como incomoda nesse país. E andar de avião, minha cara, não é luxo
não. Chame isso de conquista dos Direitos Humanos, significa Direitos Humanos.
Era gostoso andar de avião quando o banco do meio ia vazio, porque não tinha
passageiro. Hoje tá lá. Pode ver que muitas das pessoas que vieram aqui, muitas
vieram de avião. Muitos vieram de avião. Eu lembro que os congressos que a
gente fazia, que era tudo de ônibus. Eu sei dos congressos que a gente fazia
que as pessoas iam de ônibus, e ainda, a gente dormia em hotel com colchão de
capim. É por isso que nós chegamos até aqui. E é por isso que nós fizemos o que
nós fizemos. E é por isso que nós podemos nos orgulhar, que não tem nenhum país
do mundo que tenha feito a quantidade de transferência de renda, que nós
fizemos nesse país. É por isso que o
salário mínimo aumentou o tanto que aumentou. É por isso que em dez anos, nós
desapropriamos, pra efeito de reforma agrária, 56% de toda a terra
desapropriada em 500 anos desse país. Ainda falta fazer? Falta! Falta fazer! É
possível cuidar melhor dos índios? É! É possível cuidar melhor dos negros? É! É
possível cuidar melhor e acabar com a violência? É! Nós temos muito o que
fazer. Então nós vamos fazer. Se a gente tiver consciência de que isso é uma
caminhada. É uma caminhada em que todos nós temos que (sic) tá juntos. É uma
caminhada que nós temos que aprender. Eu lembro, eu lembro da primeira vez que
eu fui visitar o Mandela em Pretória. Eu lembro quando eu fui em Pretória, o
povo, o povo tava contente. Não é porque o Mandela tinha conseguido resolver os
problemas da pobreza. É porque o Mandela tinha recuperada uma coisa mais
sagrada do que dinheiro. Ele tinha
recuperado a dignidade da maioria negra, que era explorada e torturada naquele
país. (APLAUSOS). Eu lembro de como o povo, eu lembro da primeira vez que eu
recebi os catadores de material reciclado dentro do Palácio da Alvorada. Eu
lembro quando nós demos a palavra pro representante dos catadores, e ele
falou:”Presidente Lula, presidente não, Companheiro Lula, permita-me chama-lo
de companheiro. Eu não tenho uma reinvindicação pra fazer, porque nada que o
senhor me atender é mais importante do que eu estar aqui, dentro desse Palácio,
que só entrava “gran fino”. Só entrava Príncipe, Rei, Presidente, Empresário. O
pobre não entrava. Eu lembro quando nós fizemos a primeira reunião com os
hansenianos dentro do Palácio. Eu lembro quantos hansenianos não acreditavam
que fosse possível alguém recebe-los dentro do Palácio, e beijar um por um, sem
nenhum preconceito. Isso chama-se “Conquista de Dignidade”, e “Conquista de
cidadania”. Eu não tenho nenhum problema. Aceito. E é por isso que fizemos as
conferências nacionais. O maior legado que eu deixei pra esse país não foi o
Bolsa Família, não foi o aumento de salário mínimo. O maior legado que eu
deixei para esse país foi criar uma outra relação entre o Estado e a Sociedade.
Foi fazer 74 conferências, e eu participei de quase todas. Eu lembro quando eu
vim na reunião do LGTB. Eu lembro quando eu vim, diziam pra mim: “Ô Lula, você
não pode ir. Você não pode ir, porque pode um travesti te abraçar. Cuidado com
a fotografia. Eles vão te criar problema. Eu vim. Eu vim. Tratei eles com
respeito, e fui tratado com respeito e dignidade, porque neste país, neste
país, eu sei do preconceito quando a gente tenta resolver os problemas dos
quilombolas. Vocês acham que é fácil? Tá cheio de empresário que fala pra mim:
“ Primeiro era índio, depois Sem-Terra, agora é quilombola. Quando é que vai
sobrar terra pro fazendeiro?”. Vai sobrar, quando os pobres um dia tiverem as
terras que um dia foram deles, porque eles tomaram (GRITOS E APLAUSOS). Agora,
é importante a gente ter em conta que o país tem Constituição. É preciso medir
a correlação de forças nesse partido. No Congresso Nacional (conserta). A gente
não pode fazer o que quer. Quando o Paulinho era secretário, que nós aprovamos
o Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, vocês viram a quantidade de
porrada que nós tomamos durante vários meses. E quando a gente não tem maioria,
a gente tem que ter competência de negociar. E mesmo que a gente tiver maioria,
a gente não pode massacrar a minoria. Nós temos que trata-la com respeito, e
negociar, porque isso é exercer. Eu participava das conferências. Quantas
pessoas falavam mal do governo? Quantas pessoas desancar
do governo. Não me chamavam de Excelência,
me chamavam de “Companheiro” e “Paulo Companheiro”. E eu nunca me ofendi por
isso. Nunca. Eu achava que democracia era isso. É as pessoas falarem o que
querem. É as pessoas dizerem aquilo que querem, porque, nós governantes, vamos
aprendendo com as críticas. E nós governantes, muitas vezes somos cercados de
um monte de companheiros que só falam coisas boas pra gente. E nós temos que
ouvir, de vez em quando, as coisas que não falam pra gente. E muitas vezes é o
povo que está descontente, e nós não perguntamos: “Por que é que está
descontente?” Muitas vezes as pessoas falaram, muitas vezes as pessoas votaram
na gente, e uma semana depois (sic) tão
contra, porque , quem sabe, nós não
tenhamos feito o que as pessoas queriam
que fosse feito. Portanto, companheiros e companheiras, eu digo do coração:
“feliz o país que tem uma presidenta do caráter da companheira Dilma Rousseff,
da história da Dilma Rousseff, e do compromisso da Dilma Rousseff. Feliz o
país!”. Vocês sabem o que essa companheira sofreu pra ser eleita presidente?
Vocês sabem que o preconceito que ela sofreu na campanha, vocês sofrem
diariamente? Porque esse país avançou. As mulheres, Maria do Rosário, as
mulheres já alcançaram 179% no mercado de trabalho. As mulheres evoluíram, mas
não houve a mesma quantidade de homens indo pra cozinha. (APLAUSOS). Significa,
que aumentou o trabalho das mulheres. Aumentou aquela história, aquele
preconceito que a gente tinha, que perguntava pra mulher “Ô companheira, você
trabalha?- Não- E o que é que ‘cê’ faz? – Sou doméstica!”, como se um trabalho
doméstico -limpar casa, limpar banheiro, trocar fralda, colocar comida pra
criança, mandar a criança pra escola, receber criança, preparar janta, fazer
comido pra marido- não fosse trabalho. É um trabalho mais escravo do que
qualquer outro trabalho na história da humanidade (GRITOS E APLAUSOS). É por
isso...eu não sei se a Maria da Penha está aqui, eu acho que eu nunca falei
tanto da Lei Maria da Penha, como eu falei na campanha de 2006. Antigamente o
cara maltratava a mulher, depois pagava uma “pensãozinha” e estava resolvido o
problema, ou uma cesta básica. Agora não! Não queremos mais cesta básica. Agora
o que queremos é que um cidadão que levanta a mão pra bater numa mulher, ele
tenha vergonha, porque mulher não nasceu pra apanhar. Ele tenha vergonha,
porque mulher...mulher...e por isso é que eu acho importante se a mulher
trabalhar. Quando a gente fala que a gente não avançou, é importante a gente
lembrar que a mulher não votava em 1934. É importante a gente lembrar, que o
primeiro voto da mulher foi conquistado na Justiça, na cidade do Mossoró, no
Rio Grande do Norte. Então gente, nós evoluímos. E vou dizer pra vocês algumas
coisas que falta fazer nesse país, e que eu tenho certeza que a Dilma vai
fazer, e se ela não fizer tudo, nós vamos ter que fazer pra frente, e se nós
não fizermos, ninguém vai fazer. Eu queria dizer, ou seja, nós ainda precisamos
universalizar o ensino básico nesse país. Nós precisamos universalizar, da
creche à Universidade. Nós já avançamos no ensino fundamental, mas nós
precisamos universalizar...Por isso , é importante a gente lembrar, que a gente
tinha 33 bilhões para a educação, e já
estamos com mais de 100 bilhões para a educação, e é importante lembrar que 75%
do dinheiro dos Royalties do Pré-Sal será pra recuperar o prejuízo
histórico desse país com a educação. Mas não é só a educação! Não é só a
educação! A Presidenta Dilma teve um ato de coragem extraordinário criando mais
médicos. Mais médicos. E é importante a gente ter consciência que um país como
Cuba, que vive há 60 anos com bloqueio, que é um país que passa necessidade,
tenha a coragem de exportar médicos, não apenas para o Brasil, pra dezenas de
países que são economias grandes e que não tem médicos. Porque neste país aqui,
neste país aqui, a elite brasileira achava que pobre não precisava ser tratado.
Pobre não precisava de médicos. Pobre pode morrer, porque tem demais. E a Dilma
deu uma demonstração. Nós vamos trazer médicos de onde tiver. Porque o que nós
queremos é que o povo brasileiro seja tratado com respeito, com decência e com
dignidade. Por isso companheiros, Paulinho Vanuca ficou uma vez nervoso comigo,
porque eu fui visitar o pai do companheiro Genoíno em Quixeramobim, e cheguei
lá , um velhinho de mais de oitenta anos, trabalhando de sol a sol, sem ter o
que comer. E eu falava pra o Paulinho Vanuca: “ô Paulinho, pelo amor de Deus,
não dá pra gente colocar a fome nos direitos humanos? Não dá pra gente colocar
o direito de comer, o direito de estudar, o direito de sonhar, o direito de ter
acesso à cultura, o direito de ter acesso à educação. Tudo isso é Direitos
Humanos, gente! Por isso, é que na questão da cultura, os pontos de cultura
fossem importantes. É por isso que o Vale Cultura, que permite que o pobre
possa ir num teatro hoje é importante. É pouco? É! Eu sei que é pouco. Eu fico
pensando naquilo que nós não fizemos, e eu lembro da coitada da Marisa. Eu tô
casado há 39 anos, tanta coisa que eu prometi pra ela, e ainda não consegui
cumprir. E ela que não me reivindique mais, porque agora é que eu não posso
cumprir mesmo. Agora é que eu não vou conseguir atender. Mas ela sabe que o que
eu fiz era aquilo que eu podia fazer. Portanto, eu agradeço a compreensão, e
quero agradecer, companheiros, a compreensão de vocês por algumas coisas. Eu
quero agradecer a compreensão de vocês porque eu sei como o pobre é tratado
nesse país. Se alguém já passou necessidade aqui...Vocês querem discutir como é
que vive alguém que foi vítima de enchente? Pergunte pra mim. Porque não foram
poucas as vezes que eu levantei uma hora da manhã com merda passando na minha
cama, com rato, com barata. Querem perguntar pra mim como é que vive sem comer?
Pergunte que eu sei o que é a lombriga maior comer a menor. Eu sei como é que
é, sabe? Ter como mistura apenas Tanajura quando chovia, ou quando fazia tempo
de Tanajura. Querem falar como é que bebia água não-potável? Fale comigo, que
ia no açude buscar água no pote,e que tinha mais lama, mais merda de animal do
que qualquer outra coisa. E eu quando vim de Pernambuco pra cá só tinha
barriga. A perna era mais fina que o dedo de vocês. A barriga era maior do que
a que eu tenho hoje, de verme, de doença. E é por isso que nós resolvemos
priorizar os pobres desse país. É por isso que nós fizemos a maior ascensão
social da história desse país. E é por isso que eu sei que falta muita coisa,
companheiros. Mas estejam certo de uma coisa: nós, nós vamos fazer muito mais.
Pode-se fazer muito mais. Quem quiser torcer contra, que torça. Eu conheço a
Dilma há apenas dez anos, ela foi minha ministra. A mulher. A mulher, que
passou pelo que a Dilma passou, e faz o que ela faz, com o bom-senso que ela
tem, meus filhos, podem ficar certo, que esse país tem que ter motivo de
orgulho. Motivo de orgulho pela presidenta que elegemos. Portanto companheiros
e companheiras, Maria do Rosário, eu quero dizer pra vocês, que nós temos que
continuar avançando na questão dos Direitos Humanos. Nós temos que começar. A
comissão da verdade...é que eu não quero falar o que já foi falado, meu filho.
Se eu for falar tudo o que já falaram aqui, vai ser um repeteco. Mas as pessoas
de bom senso, as pessoas de bom senso sabem o que já foi feito neste país. E as pessoas sabem que podem continuar
reivindicando. Não tem problema. Podem continuar reivindicando. Porque quanto
mais o povo reivindica, mais a gente sabe que tem que atender o clamor do povo.
Nenhum presidente do mundo teve a coragem que a Dilma teve com as manifestações
de Julho. Nenhum presidente. Ela teve coragem de encarar as manifestações. E o
que me preocupa não é a reivindicação- eu quero mais saúde, eu quero mais
dentista, eu quero mais médicos, eu quero combater a corrupção- tudo isso nós
já carregamos essa bandeira. Eu tenho bursite de carregar bandeira contra tudo
isso. Eu tenho bursite de reivindicar o fim do FMI, agora veja, veja uma coisa
interessante: o que a gente não pode aceitar é a negação da política. Quando
vocês verem um jovem rebelde, bem rebelde, dizendo: “ não gosto de política”, “
eu não acredito nos partidos políticos”, “eu não acredito no governador”, “eu
não acredito no prefeito”, “eu não acredito no deputado”, quando vocês
encontrarem um jovem rebelde dizendo que ninguém presta, ainda assim, convença
esse jovem que ele não pode negar a política. Porque se ele nega a política,
ele vai apenas cumprir uma profecia: a desgraça de quem não gosta de política é
que é governado por quem gosta. (GRITOS E APLAUSOS). Ah, eu acho extraordinário
como a imprensa tenta criar uma imagem negativa da política. Eu acho
fantástico. O dia em que um jovem não gostar de política, o dia em que ele
falar que ninguém presta, como eu falava em 78...vocês são muito jovens, mas em
78 eu falava assim: “ Eu não gosto de política, e não gosto de quem gosta de
política”. Quando eu falava isso, eu era manchete de jornal. Eles diziam: “
Agora sim nascia um operário puro, um operário puro, que não gosta de política.
Esse sim é o nosso operário.” E dois
anos depois eu inventei o PT e eles deixaram de gostar de mim. Então, eu queria
terminar dizendo para aqueles que não gostam de política, aqueles que acham que
todo mundo não presta, deveria pensar o seguinte: se você não acredita nos
políticos, e você quer um político honesto, decente e combativo, entre na
política. Porque o político que você quer está dentro de você, não está dentro
de mim. A negação da política é o fascismo. A negação da política nós vimos no
que deu no planeta Terra. Nós vimos agora a Primavera Árabe. Primeiro derrubaram
o Mubaraki. Maravilhoso, derrubaram o Mubaraki. Depois elegeram o Morsi. Ótimo,
elegeram o Morsi! Depois derrubaram o Morsi. Ótimo, derrubaram o Morsi. Quem é
que tá no governo? Uma junta militar! Então queridos companheiros, só tem um
jeito: é a gente acreditar e fortalecer a democracia. E eu acho o seguinte: só
é possível estabelecer a democracia se a gente tiver a coragem de mostrar a
nossa cara. Se a gente não tiver coragem de mostrar a cara, não tem democracia.
Não tem! Eu não tenho aptidão pra Zorro, pra mascarado. Minha posição é a
seguinte: falar o que tem de falar, a luz do dia, pra as pessoas aprenderem a respeitar a gente. Quando eu era
dirigente sindical, eu ia na porta da
fábrica uma hora da manhã às sete horas da manhã, falar coisas que muita
gente não tinha coragem de falar. E é assim que nós temos que funcionar.
Avançar na conquista dos Direitos Humanos! Significa exercer mais democracia,
significa exercer mais conquista social, significa valorizar os pobres desse
país. Por isso companheiros, viva a presidenta Dilma Rousseff! Viva a conquista
dos Direitos Humanos! E viva a nossa querida ministra Maria do Rosário! Um
abraço e até outro dia, se Deus quiser. (GRITOS, APLAUSOS E CANTOS).
CANTO
: “LULA, GUERREIRO DO POVO BRASILEIRO!” .
[1]
Transcrição feita pelo pesquisador mestrando em Estudos Linguísticos (Análise do
Discurso) Rodrigo Seixas Pereira Barbosa (CNPq), da Universidade Federal de
Minas gerais (UFMG-POSLIN).
[2]
Todos os créditos são da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a quem agradeço bastante
pela possibilidade de usar esse pronunciamento em minhas pesquisas. Todos os créditos
de direito são então reenviados a EBC.
[3]
No material enviado pela EBC, os primeiros cinco minutos do pronunciamento vieram
sem áudio.